A mulher jamais esteve em termos de igualdade com os homens, seja na economia, política, ciências, liberdade de expressão etc. Há não muito tempo atrás, não se cogitava mulher trabalhando. Por isso, também não precisava estudar muito, talvez o suficiente apenas para assinar o próprio nome. Ela era criada para ser esposa e mãe. Ponto.
Claro, muita coisa mudou. E tudo isso aconteceu graças ao próprio movimento feminino, seja através do feminismo ou simplesmente do “basta!” que mulheres, mesmo individualmente, foram dando à situação que estavam vivendo. E isso nós podemos – e devemos – comemorar sempre.
Os primeiros movimentos organizados surgiram nos séculos 18 e 19, preparando o que viria a acontecer a partir de 2000. Nos séculos anteriores, as pautas eram sobre o direito de trabalhar e de votar, principalmente. Outros temas foram se somando, como a liberdade sexual (principalmente após a invenção da pílula anticoncepcional, na década de 60), igualdade de salário no mercado de trabalho e benefícios como licença-maternidade e creche.
Mas ainda estamos muito, mas muito longe de qualquer tipo de igualdade de gênero em termos econômicos e sociais. Quer ver?
O relatório da Comissão Econômica para a América Latina e Caribe (Cepal), estima que 50,1% das mulheres destas regiões desempenhem trabalhos ou serviços não qualificados que, em futuro próximo, será realizado por máquinas.
O Brasil ocupa o 92º lugar no ranking do Fórum Econômico Mundial, que analise a igualdade entre homens e mulheres em 153 países. Convenhamos, é uma péssima qualificação. E, para piorar, o mesmo estudo mostra que o país caiu 11 posições nos últimos anos, ou seja, estamos vivendo um retrocesso na luta pela igualdade de gênero.
Alguns estudiosos preveem que a desigualdade irá piorar ainda mais nos próximos anos devido à pandemia do coronavírus, com o aumento do desemprego e a diminuição dos salários, além do fato de que a muitas mulheres não poder trabalhar em home-office. Será criada uma espécie de elite “empregável”: homem, branco, com boa formação acadêmica e experiência.
Se alguém duvida disso, é só ver os dados antes da pandemia a respeito de um direito básico da mulher no trabalho: a licença maternidade. A Fundação Getúlio Vargas (FGV) realizou um estudo com 247.455 mulheres que estiveram de licença-maternidade entre os anos 2009 e 2012 e acompanhou o percurso profissional de cada uma até o ano de 2016. O estudo concluiu que metade das participantes da pesquisa foi demitida até dois anos após o término da licença.
Em termos de representação política, também não estamos nada bem. Um relatório de 2017 do Fórum Econômico Mundial mostra que o Brasil passou da 86ª para a 110ª colocação no ranking de “Empoderamento Político”. Nos ministérios do governo, por exemplo, só 2 de 28 ministérios eram ocupados por mulheres. Em 2009, a Lei das Eleições (Lei nº 9.504, de 1997) instituiu que “cada partido ou coligação preencherá o mínimo de 30% e o máximo de 70% para candidaturas de cada sexo”. As cotas são importantes, mas já houve casos de “candidatas-laranja”, cujos nomes são usados apenas para cumprir a lei e assim o partido tem direito às verbas públicas para campanha.
Sabe onde as mulheres sempre saem ganhando? Nos estudos.
Uma pesquisa do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) de 2016 revelou que o índice de frequência das mulheres no Ensino Médio é de 73,5%, contra 63,2% de frequência dos homens. Mulheres também são maioria no ensino superior e em pós-graduação.
Por outro lado, na hora de buscar emprego, essa mesma mulher, com melhor formação do que o homem, tem salário menor. O IBGE mostrou também que no segundo semestre de 2017 a média salarial do gênero feminino equivalia a 87% da média salarial do gênero masculino.
De acordo com o Fórum Econômico Mundial (WEF), se nada for feito e a desigualdade de gênero no local de trabalho continuar nesse ritmo, teremos que esperar em média 257 anos para alcançar a paridade.
Os países nórdicos continuam a dar o exemplo em termos de igualdade da mulher. A Islândia ainda é o país mais igualitário do mundo, seguido pela Noruega, Finlândia e Suécia. Entre as outras 10 principais economias estão Nicarágua, Nova Zelândia, Irlanda, Espanha, Ruanda e Alemanha.
O Brasil subiu 3 posições no ranking, na comparação com 2018, e ficou na 92ª posição.
Apesar dessa melhora, o Brasil tem, segundo o relatório, uma das maiores desigualdades de gênero na América Latina, ocupando o 22º lugar entre 25 países da região. As maiores disparidades no país são verificadas na participação política e nos salários.
Confira neste aqui o nível de desigualdade nos países.
Mas também temos muitos exemplos que fizeram a diferença. Confira algumas mulheres incríveis no Brasil e no mundo que inspiram a gente!
Maria Quitéria (1792-1853) – Militar brasileira
Foi a primeira mulher a integrar as forças regulares no Brasil (mesmo que antes de ser reconhecida como militar, tenha entrado no exército disfarçado de homem. Participou de várias batalhas contra as tropas portuguesas que não aceitavam a independência do Brasil.
Ada Lovelace (1815-1852) – Cientista britânica
Ada foi responsável pela criação do primeiro algoritmo processado por uma máquina. Por este feito ela é hoje considerada como a primeira programadora do mundo, expressão que ainda não existia no século XIX, quando ela viveu. Ada, também conhecida pelo título de Condessa Lovelace, era filha do poeta romântico Lorde Byron (1788-1824). Esta contribuição com os algoritmos de Ada é reconhecida como uma parte fundamental da história e do avanço da informática e da programação no mundo.
Anita Garibaldi (1821-1849) – Líder militar brasileira
Anita conheceu Giuseppe Garibaldi, um italiano que fugia de uma sentença de morte na Itália, em 1893. Ao lado dele, lutou pela implantação da república do Rio Grande. Mais tarde, iriam para o Uruguai onde combateriam o ditador argentino Juan Manuel Rosas. Em 1847, vai para a Itália, onde o marido se encontrava. Lutariam pela unificação italiana. Por sua participação em guerras nos dois continentes, Anita Garibaldi é chamada a “Heroína dos dois Mundos”
Maria Tomásia Figueira Lima (1826-1902) – Abolicionista brasileira
Em 1882, fundou a Sociedade Abolicionista das Senhoras Libertadoras, uma seção da Sociedade Libertadora Cearense. O objetivo da instituição era alforriar escravos, pressionar o governo a abolir a escravidão e conscientizar o maior número de pessoas para este fato.
Chiquinha Gonzaga (1847-1935) – Compositora, pianista e maestrina Brasileira
Pianista autodidata, compôs obras importantes e chamou a atenção dos produtores da época. Em 1884, estreia a opereta “A Corte na Roça”, sob sua regência e isso a tornou a primeira maestrina brasileira. Do mesmo modo, se engaja na luta contra a escravidão, os direitos autorais e femininos. Recusa a publicar suas partituras sob pseudônimo masculino e escandalizava a sociedade com sua vida amorosa chocante para os padrões da época.
Você conhece suas músicas. Afinal que Carnaval existem sem marchinhas como “Ó, Abre-Alas”? Durante sua vida, escreveu mais de 2 mil músicas.
O dia do seu nascimento, 17 de outubro, foi declarado Dia Nacional da Música Popular Brasileira em 2012.
Marie Curie (1867-1934) – cientista polonesa
Marie Curie fez pesquisas sobre química e física, principalmente sobre a radiação. Foi responsável pela descoberta de dois elementos químicos importantes: rádio (Ra) e polônio (Po). Foi a primeira mulher do mundo a receber um prêmio Nobel (de Física). Também foi a primeira mulher a concluir um doutorado na Universidade de Sorbonne, na França.
Depois de receber o Nobel pela descoberta do rádio e do polônio, trabalho que executou com o marido Pierre Curie, Marie recebeu um segundo prêmio Nobel (de Química) por suas pesquisas sobre a aplicação e os benefícios da radioatividade.Além de suas pesquisas sobre radiação, que foram fundamentais para o avanço da ciência, Marie também trabalhou na criação de um sistema de radiografia que foi usado para o tratamento de soldados durante a Primeira Guerra Mundial.
Bertha Lutz (1894-1976) – Botânica, advogada e militante feminista brasileira
Foi a segunda mulher a prestar concurso público no Brasil, mas sua inscrição só seria aceita após uma batalha judicial. Foi aprovada e ingressou como secretária do Museu Nacional, do qual, anos mais tarde, seria diretora.
Fundou a Liga pela Emancipação Intelectual da Mulher e conseguiu que colégios exclusivos para meninos passassem a aceitar meninas também.
Carlota Pereira de Queirós (1892-1982) – Médica e deputada brasileira
Foi a primeira deputada federal do Brasil e integrou as comissões de saúde e de educação. Participou da Assembleia Constituinte que elaboraria a nova Carta Magna, mas o golpe de 1937 acabou com sua trajetória política.
Amelia Earhart (1897 – 1939) – Aviadora norte-americana
Foi um grande símbolo da aviação. Além de ter sido a primeira mulher a voar sozinha sobre o Oceano Atlântico, Amelia também foi a primeira a receber a Cruz de Voo Distinto, a condecoração militar atribuída a atos de heroísmo ou conquista extraordinária concedida a pilotos das Forças Aéreas dos EUA. A piloto desapareceu no Oceano Pacífico enquanto fazia um voo de volta ao mundo.
Nise da Silveira (1905-1999) – psiquiatra brasileira
Nise da Silveira se formou em medicina no ano de 1931, sendo a única mulher em uma turma com mais de 150 colegas homens.
Durante sua carreira ela contestou e lutou por mudanças nos tratamentos psiquiátricos, especialmente com os pacientes esquizofrênicos. Ao contrário disso, ela acreditava que bons resultados viriam seriam consequência de tratamentos mais humanizados, baseados em terapia, arte e atenção. Com seu trabalho, revolucionou o tratamento de saúde mental do Brasil.
Carolina de Jesus (1914-1977) – escritora brasileira
Carolina viveu boa parte da vida na pobreza e sobrevivia como catadora de papel, mas era apaixonada por literatura e, apesar do pouco estudo, escrevia diários continuamente, relatando seu cotidiano. Sua autobiografia até hoje é um clássico e mostram o preconceito racial, pobreza e desigualdade social. Na década de 1960 foi descoberta pelo jornalista Audálio Dantas, que se interessou por seus escritos e publicou o livro Quarto de despejo. A publicação chegou a ficar em primeiro lugar entre os livros mais vendidos e mudou a vida de Carolina, que conseguiu sair da favela e viajou para lançar o livro em outras cidades.Em pouco tempo perdeu o dinheiro que havia conquistado e faleceu do mesmo jeito que viveu boa parte da vida: com pouco dinheiro e quase sem amigos.
Zilda Arns (1934-2010) – pediatra brasileira
Foi a Fundadora da Pastoral da Criança, que combate a desnutrição infantil, a desigual sociale a violência. A Pastoral também orienta as mães quanto ao aleitamento materno, ensina a fazerem o soro caseiro e a multi-mistura, além de noções de higiene e saúde. A pastoral atua em 43 mil municípios do Brasil e calcula-se que mais de dois milhões de crianças tenham sido beneficiadas pelo seu trabalho. Zilda Arns faleceu durante o terremoto que devastou o Haiti em 2010.
Maria da Penha (1945) – ativista brasileira
Maria da Penha Maia Fernandes é uma mulher sobrevivente de violência doméstica. Durante seu casamento, que durou mais de 20 anos, foi agredida pelo marido diversas vezes. Em uma das agressões ela foi vítima de tentativa de homicídio. Foi atingida por disparos de uma arma de fogo. Sobreviveu, mas acabou ficando paraplégica.
Enfrentou anos de batalhas jurídicas e foram necessárias intervenções de órgãos internacionais como a Comissão Interamericana de Direitos Humanos da Organização dos Estados Americanos (OEA) para que o marido fosse finalmente condenado.
Com todo essa luta, ela se tornou um símbolo e, por isso, a lei de combate à violência contra a mulher (lei nº 11.340/06), publicada em 2006, recebeu seu nome. Hoje, Maria da Penha uma organização não governamental que na atua na educação e no combate à violência doméstica, além de acompanhar a aplicação da lei e a formulação de políticas públicas sobre o assunto.
Chimamanda Adichie (1977) – escritora nigeriana
Seus temas são feminismo, cultura africana, racismo e desigualdades sociais. Chimamanda ficou mais conhecida em 2012, quando participou de uma de uma conferência e sua apresentação viralizou. A apresentação “Todos devemos ser feministas” acabou virando um livro de grande sucesso.
Marta (1986) – esportista brasileira
Marta joga pela seleção brasileira desde 2003. Em 2019 se tornou artilheira geral de todas as Copas do Mundo, com 17 gols marcados. Também foi artilheira de pelo menos mais cinco campeonatos.
É reconhecida por sua carreira no futebol e já recebeu diversos prêmios, entre eles a eleição como melhor jogadora do mundo. Marta recebeu essa premiação da FIFA seis vezes.
Malala Yousafzai (1997) – ativista paquistanesa
Malala Yousafzai se tornou conhecida aos 15 anos, quando se manifestou publicamente contra a proibição de estudo para as mulheres paquistanesas. Por isso, sofreu um ataque de talibãs (membros de um grupo extremista do islamismo) e foi baleada ao sair da escola. Sua história já foi contada em um livro (Eu sou Malala) e um documentário que leva seu nome. Foi a mais jovem premiada com um Nobel da Paz, aos 17 anos.